I ♥ Powerpoint
Primeiro grande acontecimento da temporada: conferência de David Byrne, intitulada «I ♥ Powerpoint», num dos auditórios do Dwinelle Hall.
Valeu a pena esperar mais de uma hora pelo bilhete de admissão. Mesmo ficando com um dos últimos lugares disponíveis (a lotação era de 300 e a fila dava meia volta ao edifício do Dwinelle Hall), consegui ficar na bastante à frente, apesar de quase encostado a uma das paredes laterais.
David Byrne é um dos poucos artistas actuais que usa o Powerpoint como meio artístico, tendo sido nessa qualidade convidado para um dos colóquios mensais sobre «Art, Technology and Culture» do Center for New Media de Berkeley (em Fevereiro esteve o Gilberto Gil). É tarefa complicada transmitir a animação da conferência, que foi antecedida por uma série de apresentações/peças de Byrne, mas é possível dar algumas notas rápidas (bullet points, como se diz em «powerpointês», o que de resto foi um dos temas em conversa).
Antes de mais, e já o host o tinha mencionado, a história do Powerpoint está intimamente ligada à Bay Area e a Berkeley. O seu criador mais remoto foi Whitfield Diffie, um hippie (ou melhor, hipnik) que se doutorou em Berkeley, também conhecido pela co-autoria de um sistema de criptografia de chave pública, e o programa - então apenas para o MacIntosh - foi inicialmente concebido para imprimir, exclusivamente a preto e branco, acetatos para o meio que viria a devorar - o retroprojector. Bob Gaskins (mais um doutorado pela UCB) e Dennis Austin levaram a ideia mais longe, tomando uma forma já semelhante à que hoje conhecemos. O nome transporta, de resto, algo do lema dos sixties: de «power to the people» a «powerpoint» (cf. «Powerpoint to the people»), se bem que duvido que seja esse o significado dos 30 milhões de apresentações que são feitas diariamente no mundo, de empresas a sermões em igrejas.
Informação trivial à parte, a conferência foi hilariante, repleta de exemplos da forma de raciocinar que é imposta pelo Powerpoint. Falou-se de Neal Stephenson, de McLuhan e do teatro japonês a propósito das imposições deste meio quente e de baixa resolução, e houve inclusive tempo para ver uma apresentação que Byrne recebeu de um astronauta numa estação espacial («Is this what these people are doing in space stations? Powerpoint presentations???»); falou-se ainda da razão para usar o Powerpoint como meio artístico («I thought I had a medium all for myself!»).
E acima de tudo, deu para aprender duas coisas fundamentais: a primeira, o que fazer quando a tecnologia falha, tem uma resposta simples, pelo menos para um músico como Byrne - puxar da guitarra; a segunda, como safar-se duma pergunta difícil ou simplesmente estúpida, como acaba sempre por ocorrer em conferências desta dimensão, prefiro reservar para mim, para poder usar numa ocasião adequada.
A conferência foi transmitida em directo pela web, agora resta apenas o arquivo.
Última apreciação: David Byrne = Kosmo Kramer!
[UPDATE: Eis outros blogs que mencionam a conferência:
Hong Qu
cheesebikini
cma104
art.blogging.la
ophelia's art blog]
1 Comentários:
Só agora vim ao Blog. muito giro, com direito a fotos e mapas. I see you are having a laugh!!!
Um abraço, Rita (Lisboa na mesma, claro)
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